O Brasil é um país rico em rios e disponibilidade de água doce, porém nem todo o território é provido desse recurso.
Além da posição geográfica da região, existem outros fatores que desafiam a reutilização e preservação da água hoje.
Entre eles destacam-se: má administração pública, poluição dos rios e lençol freático, não preservação dos mananciais, mudanças climáticas, aumento populacional e desmatamento.
Por isso, falaremos sobre esse elemento que é o principal responsável pela vida na Terra.
Vamos conhecer o segundo item da série Net Zero, e aprender algumas estratégias para aplicar Net Zero Água?
O que é um edifício Zero Net Água?
Uma edificação Zero Net Água realiza uma dinâmica neutra desse recurso. Por meio da utilização de fontes alternativas, redução na demanda tratamento da água para retorno à fonte de reuso, o edifício pode se tornar autossuficiente em água, ou minimizar o consumo do fornecimento público.
O intuito desta certificação é preservar a quantidade e a qualidade dos recursos hídricos naturais atuais e para as gerações futuras.
Por fim, um prédio (ou campus) com rede zero de água compensa completamente o uso da água proveniente de fontes alternativas mais a quantidade de água tratada e retornada à fonte de água original, que abasteceu essa edificação ou campus.
Entretanto, caso o edifício não estiver localizado dentro da bacia hidrográfica ou do aquífero da fonte original, não é possível o retorno da água à sua fonte.
Nesse caso, a solução possível de viabilizar o projeto Zero Net Água dependeria do uso alternativo da água, como captação da água da chuva e tratamento de água residual.
Mensurando o Zero Net Água
Primeiramente é necessário conhecer algumas informações básicas para viabilizar o projeto Net Zero, como:
- Precipitação local média – mês a mês;
- Área disponível para captação da chuva;
- Possibilidade de ligação com lençol freático;
- Sistema que atenderá o volume da demanda;
- Medição detalhada.
A partir desse cenário podemos partir para o cálculo de demanda do edifício, pela seguinte fórmula:
V demanda = V potável + V não potável + V alternativa, onde:
V demanda é o volume total utilizado de água do edifício ao longo do ano;
V potável é o volume de água utilizada de fontes potáveis ao longo de um ano;
V não potável é o volume de água utilizada de fontes de água doce não potáveis ao longo de um ano;
V alternativa é a quantidade de água consumida no edifício a partir de fontes de água alternativas – não derivam de fontes de água doce – ao longo de um ano.
Para a finalidade de um edifício Net Zero Water, o consumo total é representado por uma simples fórmula, em que:
V demandam = V alternativa + V devolvida, onde:
V demanda é o volume total utilizado de água no edifício ao longo do ano;
V alternativa é a quantidade de água consumida no edifício a partir de fontes de água alternativas – não derivam de fontes de água doce – ao longo de um ano;
V devolvida é a quantidade de água devolvida à fonte de água original, devido aos sistemas de infraestrutura verde e águas residuais tratadas no local, ao longo de um ano.
Em um edifício Net Zero, a demanda anual de água deve ser compensada por água alternativa, em parte ou completamente, e/ou pela água retornada à fonte original, em parte ou completamente.
Resumindo, a verificação se dá anualmente pela comparação dessas duas fórmulas, a partir do acompanhamento dos dados coletados:
- Uso de água potável;
- Uso de água não potável (de fontes de água doce);
- Uso alternativo da água (não derivam de fontes de água doce);
- As águas residuais tratadas no local que retornaram à fonte de água original;
- As águas pluviais drenadas para sua fonte original, por meio de infraestrutura verde.
V alternativa + V devolvida ≥ V potável + V não potável + V alternativa → Zero Net Água
Fonte: energy.gov
Elementos de um Edifício Net Zero Water
Acompanhe os elementos estratégicos para alcançar uma edificação zero água:
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Reduzir o consumo
Reduzir é sempre a primeira e mais importante estratégia para apostar em uma construção Net Zero. Confira os principais itens a serem seguidos para economizar água em edificações:
– O fluxo de água em equipamentos hidráulicos pode ser reduzido com: arejadores em torneiras, chuveiros de baixa vazão e acionamento de descarga duplo;
– Considerar equipamentos que não utilizam água, como: descarga a vácuo e banheiros com compostagem;
– Optar por equipamentos eficientes com selo Energy Star e máquinas de lavar louça que reciclam a água;
– Se possível, reduzir ou eliminar a água usada em sistemas de refrigeração e aquecimento substituindo-os por sistemas de energia solar e de ciclos de convecção naturais;
– Apostar em paisagismo de Xeriscaping – o qual reduz ou elimina a necessidade de água para irrigação, devido ao uso de espécies nativas.
Fonte: biotratec.com.br
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Captar água alternativa
É possível produzir água alternativa de fontes sustentáveis, as quase não são derivadas de fontes de água doce. Como nos seguintes casos:
– Captação da água da chuva – pelo telhado (telhados verdes) ou pelo terreno (pavimentos permeáveis);
– Água doméstica levemente contaminadas como de pias, lavanderia e chuveiros, chamadas de Águas Cinzas;
– Águas residuais recuperadas no local, por tratamento de efluente;
– Água condensada de ar condicionado;
– Rejeito de água de equipamentos de purificação de ar;
– Entre outras estratégias.
Uma edificação que capta e trata água alternativa exige um sistema de encanamento duplo, possuindo duas redes de distribuição distintas para fornecer água potável e água não potável alternativa.
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Tratar águas residuais in loco
Em edifícios o grande empecilho de tratar águas residuais in loco é a restrição de espaço e custo. Porém existem algumas alternativas interessantes que aliam paisagismo e espaço otimizado. Este é o caso das Wetlands, ou no português Jardins Filtrantes.
Esse sistema de tratamento replica a natureza, utilizando plantas aquáticas. Suas raízes filtram a água, podendo devolvê-la a natureza ou reutilizá-la em descargas, por exemplo – neste caso também é considerada fonte alternativa de água. Seu custo é relativamente baixo e o espaço necessário é de 1 a 2 m² para cada 160 litros diários de vazão (em média, o esgoto de 1 habitante). A área requerida é relativamente grande, mas pode-se criar Wetlands em variados espaços, como na cobertura e jardins térreos.
Entre tanto, como as áreas de edificações são limitadas, reduzir o consumo de 160 litros por habitante de águas residuais geradas é crucial para fechar o balanço hídrico.
Sistema de Jardins Filtrantes na cobertura do edifício Eurobusiness
Fonte: gbcbrasil.org.br
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Retornar à fonte de água original e implementar infraestrutura verde
Para fechar o ciclo de uma edificação Net Zero Water, deve-se retornar a água utilizada à sua fonte original de água doce – bacia hidrográfica ou aquífero local. A água residual pode ser devolvida por meio de um sistema séptico ou outro sistema de tratamento, e ser descarregada no aquífero local – isto se o edifício estiver localizado dentro da fonte de água original.
Soluções em infraestrutura verde, chamadas de baixo impacto, também é uma opção para retornar a água à sua fonte original. A ideia é utilizar revestimento filtrante, como paisagismo natural e pisos permeáveis, para reter as águas pluviais, infiltrar no solo e voltar ao lençol freático.
De qualquer maneira o uso de infraestrutura verde é válido, porém fique atento se o edifício está localizado na sua fonte original de água. Caso não estiver será improvável o retorno da água para mesma. A opção pelo método de Zero Net Água dependeria do uso de estratégias de água alternativa, para compensar o consumo de água doce.
Dicas para o sucesso na operação Net Zero Water
- Incorporar os elementos zero água logo no início do processo. Estabelecer as metas desejadas e especificar os equipamentos e os elementos nesta fase. Integrar toda a equipe interessada nesse processo, para garantir o alinhamento das metas.
- Todos os contratos devem incluir a garantia de que o equipamento e os recursos contratados sejam comissionados durante a fase de construção e após a sua conclusão.
- Desenvolver um plano de gestão e operação predial dos equipamentos de água para os responsáveis pela manutenção – neste deve incluir a verificação de vazamentos, componentes quebrados e conexões frouxas.
- Medir o edifício como um todo para monitorar o uso total da água. Isto inclui os sistemas alternativos de água, a quantidade de águas residuais tratadas – para serem devolvidas à fonte original de água – e até a infiltração de água nos sistemas de infraestrutura verde – por meio de sensores de fluxo.
- Implementar um programa de mudanças e treinamentos para os usuários do imóvel. Somente com a interação de todos na causa Net Zero é possível obter sucesso completo. Esse programa deve integrar o conhecimento da tecnologia empregada, a política e o comportamento às operações diárias do edifício.
Exemplo de Edifício Brasileiro Certificado Zero Água
Para finalizar, conheça um exemplo de construção Zero Net Água no Brasil. O edifício Eurobusiness, em Curitiba, foi o primeiro a alcançar a certificação LEED Zero Água (em português, Liderança em Energia e Design Ambiental) no mundo.
Essa certificação é concedida pelo World GBC (Green Building Council). Conheça mais sobre esse empreendimento e as estratégias utilizadas para alcançar o selo zero no site da GBC Brasil.
Edifício Eurobusiness visto de cima
Fonte: gbcbrasil.org.br
Bora pôr em prática essas estratégias Net Zero Water? O nosso planeta conta com você! Fique ligado no próximo e último post da série, Net Zero Waste (Zero Net Resíduo). Até logo!
Fontes:
GBC Brasil – Primeiro edifício LEED Zero Água usa diversas estratégias para chegar no Zero
Edifícios autossuficientes: uma realidade no Brasil.
Paladino and Company – Why Net Zero Water?
Buildings – A Path to Net-Zero Water
Energy Efficiency & Renewable Energy – Design Elements of a Net Zero Water Building
Energy Efficiency & Renewable Energy – Net Zero Water Building Strategies