O que fazer quando a integração entre os principais colaboradores do seu projeto de construção civil não é colocada em prática? Antes de pensarmos em quebrar esse obstáculo, é importante que a gente entenda as consequências disso para o desempenho da construtora.
Podemos dizer que falta de comunicação estratégica é um dos pilares para a má compatibilidade de projetos. Quanto menos integradas as peças-chave da execução da obra, mais o projeto se sujeita a gerar prejuízo financeiro, infrações a leis e normas técnicas, retrabalhos etc.
Em contrapartida, quando os integrantes do time interagem do início ao fim, não somente prevenimos o projeto dos erros mencionados acima: asseguramos a redução de materiais desperdiçados, o melhor aproveitamento do tempo e a definição mais precisa do orçamento geral da obra.
Mas como colocar a integração em prática? É justamente disso que trata o presente material. Aqui, apresentamos o Integrated Project Delivery, uma abordagem relativamente nova que enfatiza a colaboração para melhorar o projeto em diversos aspectos. Vamos explorá-la mais detidamente?
Afinal, o que é e como funciona o IPD?
O Integrated Project Delivery (IPD) é uma metodologia criada para integrar pessoas, sistemas, expertise, objetivos e informações, entre outros elementos, tendo em vista otimizar os processos de construção civil. Por meio da comunicação entre integrantes-chave do projeto, o IPD busca promover uma série de benefícios.
A abordagem foi desenvolvida com base nas ideias praticadas pela montadora Toyota, o chamado sistema de produção Toyota (Toyota Production System), e nos avanços da Tecnologia da Informação, aliando, assim, os princípios de respeito e trabalho em equipe ao uso de software para aprimorar o serviço.
Em termos de objetivos e fundamentos, o IPD visa:
- aumentar a colaboração em todas as fases do projeto;
- incentivar o uso da tecnologia;
- promover o compartilhamento de informações;
- extrair ao máximo o conhecimento e a experiência dos envolvidos;
- melhorar as tomadas de decisão por meio da colaboração;
- dividir riscos e responsabilidades entre os integrantes para que todos contribuam com o sucesso do projeto;
- implantar um ambiente de confiança e transparência.
É nítida a importância do senso de coletividade no conceito de IPD, não acha? Não por acaso, a sua aplicação tem muito (ou tudo, melhor dizendo) a ver com a formação de um time. Quando falamos em “time” não nos restringimos ao trabalho em equipe, pois há outro fator essencial: o empenho da equipe para o sucesso do empreendimento.
O grande diferencial do IPD em comparação aos demais métodos de entrega é esse envolvimento mútuo. A partir dele, os integrantes do time entendem que o próprio sucesso depende do êxito do projeto, o que, por si só, gera mais comprometimento — consequentemente, mais ideias e soluções para otimizar o trabalho.
Por que o IPD se faz necessário?
Hoje em dia, existem diferentes sistemas de entrega de projetos com os quais trabalham engenheiros e construtores. Porém, a frustração acerca dos resultados que eles apresentam não deixa dúvidas quanto à necessidade de desenvolver meios mais eficazes nesse sentido.
Em outros casos, é possível que se assuma um projeto complexo a ponto de levar o engenheiro a considerar a adoção de um sistema diferente. Nesse contexto, o IPD surge como alternativa viável para que a execução da obra ocorra de maneira organizada, evitando atrasos, queda de qualidade etc.
Em comparação aos processos tradicionais adotados, estamos habituados a trabalhar com:
- times fragmentados: cada parte se incumbe de resolver demandas específicas e não se comunicam entre si;
- processos restritos a cada área: por consequência da fragmentação, as atividades não são compartilhadas, e sim isoladas entre as equipes;
- ambiente menos colaborativo: diferentemente do que ocorre no IPD, modelos tradicionais a remuneração independe do sucesso do projeto e os riscos, não são compartilhados.
Este último item, inclusive, leva muitos engenheiros a aderirem ao IPD, pois, experientes, eles compreendem que um ambiente colaborativo é essencial para o progresso da obra, sobretudo com a interação frequente entre os stakeholders, formando-se um time de executivos.
Ao longo deste conteúdo especial sobre IPD, falaremos muito a respeito dos benefícios da metodologia e o seu impacto positivo em projetos de construção civil.
Que tipos de situações o IPD se propõe a resolver?
O IPD é uma alternativa viável — em todos os sentidos, cabe ressaltar — para mudar o rumo dos projetos de construção civil. A sua aplicação engloba os mais variados aspectos da execução da obra, desde os custos à eficiência e sustentabilidade — fatores essenciais atualmente.
Como a metodologia pode ajudar? Reiterando sobre o conceito, a base para a solução é a comunicação. Entende-se que muitos obstáculos são derrubados antecipadamente quando ocorre a integração de ideias entre os envolvidos, pois a maioria é atrelada ao planejamento.
Por exemplo, a dificuldade para conclusão da obra sem o acúmulo de despesas adicionais afeta diretamente o lucro. Por que o problema acontece? Normalmente, porque nem todas as partes são ouvidas na etapa de planejamento. Isso dá origem a vários gaps que pegam a equipe de surpresa, tais como:
- atrasos operacionais por escassez de recursos;
- retrabalhos em função de inconsistências no projeto;
- consumo desnecessário de insumos;
- descumprimento dos prazos previstos;
- aquisição de materiais em caráter emergencial.
Na medida em que exista um bom nível de interação entre as partes (incorporadora, construtora, equipe de projetistas, marketing, entre outros), as necessidades são levantadas e discutidas até que se chegue a um consenso. Posteriormente, definidas as tarefas de cada um, as equipes lideradas pelos stakeholders são devidamente orientadas.
Quando colocado em prática, a exemplo do que ponderamos acima, o IPD adiciona ao projeto um verdadeiro boost de produtividade, o que pode levá-lo a ser concluído mais rapidamente, antecipando-se ao prazo estipulado no início do planejamento. Entre os resultados mais significativos, estão:
- a reputação positiva;
- a prevenção a multas contratuais;
- o ganho de tempo para dedicar a novos projetos; e
- edução de custos na etapa da construção (causados por imprevistos e incompatibilidades).
Fazendo uma breve analogia, a organização promovida por meio do IPD é como um conjunto de peças e engrenagens de um mecanismo complexo que, de tão engenhosamente pensadas e produzidas, funcionam perfeitamente, cabendo aos operadores utilizar a ferramenta com sabedoria para manter o alto desempenho.
O processo de integração entre BIM e IPD
O Building Information Model (BIM), também conhecido como Modelagem da Informação da Construção, é um conceito lançado oficialmente em 1992 (porém discutido desde o início dos anos 70), mas que nunca deixou de ser moderno; afinal, ele é aplicado nas mais sofisticadas tecnologias para desenho de projetos de engenharia.
Qual é a relação entre o BIM e o IPD? O BIM tem características que vão de encontro aos objetivos do IPD: a precisão (e nível de detalhamento) das informações e a maneira como elas são ilustradas (por meio de modelagem 3D), providenciais para reduzir custos e tornar o planejamento.
A desburocratização dos processos é um dos grandes valores que a estratégia nos traz, pois elimina a necessidade de acionar frequentemente o profissional responsável para pedir esclarecimentos.
Outro ponto forte é a provisão dos tipos de materiais requisitados e, principalmente, a quantidade a ser utilizada na obra. Tendo à disposição uma equipe operacional bem capacitada tecnicamente, é certo que despesas extras com insumos serão consideravelmente reduzidas, afinal o cálculo já foi feito no software.
Esse último benefício, aliás, é bastante significativo para construtoras, porque um dos maiores problemas enfrentados na construção civil é estourar o orçamento previsto nas etapas iniciais, ou seja, nunca há certeza alguma quanto ao orçamento, tampouco em relação ao tempo para concluir a obra.
Resultados da implementação de IPD
Depois de conhecer a vasta gama de vantagens e mudanças decorrentes da implementação de IPD, que tal conferirmos em mais detalhes os principais resultados que a abordagem se propõe a trazer? Abaixo, explicamos mais detidamente três deles.
Aproveitamento de recursos tecnológicos
Sem dúvida alguma, as inovações tecnológicas são ótimas aliadas da construção civil. Quando pensamos em IPD, somos inclinados a dar um importante passo para evoluir a maneira como trabalhamos, mesmo que isso signifique deixar a zona de conforto ou modificar um procedimento que vem funcionando satisfatoriamente.
Um bom exemplo do que estamos falando é o receio de muitos engenheiros em começar a trabalhar com o BIM, visto que sempre trabalharam com projetos em CAD (e funcionou) e, a princípio, o BIM requer mais investimento.
Todavia, os esforços técnico e financeiro exigidos no BIM são compensados pela eficiência e redução do custo final do projeto como um todo — isso sem contar o aumento da qualidade do trabalho.
Levantamento de custos do projeto
Como ressaltamos ao longo do conteúdo, o IPD contribui de diferentes formas para levantarmos os custos da obra precisamente, seja a partir da comunicação estabelecida entre os stakeholders, seja pelo uso inteligente da tecnologia, seja por conta do planejamento bem estruturado.
Na medida em que o projeto é sustentado pelas práticas destacadas acima, há mais chances de se evitar eventuais surpresas negativas. Pelo contrário, os processos ficam mais propensos a surpreenderem positivamente.
Marketing e reputação no mercado
Um fator que não podemos esquecer é a imagem que os participantes constroem no mercado. Se pensarmos na quantidade de construtores que não utilizam o IPD e suas melhores práticas, como a integração com o BIM, a vantagem competitiva é ainda maior.
Se bem aplicado o IPD, os seus projetos se diferenciarão dos demais nos quesitos eficiência, custos, sustentabilidade, transparência e agilidade, permitindo que se crie uma reputação positiva para os investidores e cliente final, evidentemente, se explore as virtudes ao trabalhar o marketing.
Falando em marketing, a já mencionada sustentabilidade tem um forte apelo na sociedade; se a maneira como o seu negócio funciona é sustentável, você tem a possibilidade de usar os indicadores de qualidade de vida como forma de aumentar o VGV (Valor Geral de Vendas) dos seus empreendimentos.
Ao longo deste e-book especial sobre Integrated Project Delivery, explicamos o funcionamento desse revolucionário modelo de contrato que vem sendo o pilar de diversas melhorias significativas em projetos de construção civil, como ele pode ser integrado ao BIM, e quais os principais resultados são obtidos a partir dele.
Esperamos que as informações tenham sido úteis e compreensíveis a ponto de mostrá-lo que o IPD é um excelente caminho para eliminar os obstáculos que o levam a perder tempo e dinheiro, assim como se trata de um conceito aplicável a todos os tipos de projetos, grandes ou não.