De forma simples, a compartimentação, tanto a horizontal quanto a vertical, têm a função de atrasar a propagação de fogo caso o edifício enfrente um incêndio.
Antes de entrar propriamente no assunto, é importante falar sobre as três fases de um incêndio. Vamos a elas:
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Fase um
É nesta fase que tudo inicia. O fogo começa a se espalhar pelos materiais que estão no ambiente. Odor é liberado e a fumaça começa a se desenvolver.
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Fase dois
Na segunda fase, o fogo cria resistência e avança no edifício através das portas, janelas, shafts ou qualquer outra abertura.
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Fase três
Após ter consumido praticamente todos os materiais, o fogo começa a atingir os elementos que compõem o prédio, como as estruturas, tetos, pisos e a compartimentação vertical e horizontal. Aqui, é importante que as estruturas apresentem resistência ao fogo até que ele seja contido.
A compartimentação vertical dificulta a propagação do fogo de um andar para o outro – para ilustrar melhor, imagine cada apartamento como um bloco fechado, dividindo a edificação em várias células. Já a horizontal cumpre o papel de dificultar a transmissão de fogo no mesmo ambiente.
A compartimentação é um sistema passivo, ou seja, ela não tem a função de atuar diretamente no combate ao incêndio, diferente dos sprinklers e extintores, que são ativos e agem diretamente no combate às chamas.
Leia também: Escadas de emergência – Tipos, dutos, paredes e portas corta fogo, antecâmara, sistema de pressurização e muito mais
Quais Instruções Normativas falam sobre compartimentação?
A compartimentação deve seguir as Instruções Normativas (IN) do Corpo de Bombeiros de Santa Catarina. Cada estado possui legislações específicas, diferente das Normas Brasileiras (NBR) que são padrão em todo território brasileiro. A compartimentação se tornou obrigatória no estado catarinense apenas em fevereiro de 2020.
São duas IN que falam sobre compartimentação, a IN 01 e a IN 14, criada neste ano. A IN 01 lista sistemas exigidos para que a compartimentação horizontal e vertical seja eficaz. Lá, há também uma tabela que aponta os itens que o projeto precisa ter de acordo com a altura do edifício. Observando a tabela abaixo é possível identificar quando é necessário ou não atender a compartimentação:
Imagem: IN01
Nessa planilha estão os sistemas que precisam ser atendido caso o edifício seja do Grupo A – residencial.
Percebe-se que, pela planilha, há notas específicas para a compartimentação horizontal e vertical. Elas indicam que a compartimentação de unidades autônomas só é necessária quando o prédio tem mais de 75 metros de altura. Já a compartimentação vertical é exigida quando o empreendimento tem mais de 60 metros de altura.
Na Thórus, por exemplo, a maioria dos projetos são mais altos, por isso sempre será necessário a compartimentação.
Como fazer a compartimentação vertical?
Para realizar a compartimentação vertical, três pontos merecem atenção: resistência estrutural da laje que separa os andares, proteção nas fachadas e aberturas nas lajes, como pequenos furos e shafts.
A resistência estrutural da laje depende do uso (residencial, comercial, hotel) e da altura da edificação.
O Tempo Requerido de Resistência ao Fogo (TRRF), exigido pela norma de desempenho, leva ao aumento do cobrimento dos elementos em concreto armado ou protendido, para aumentar a proteção da estrutura, elevando o custo com este material e o peso total do edifício.
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Furos diversos e shafts
Todas as aberturas com mais de 40 mm devem possuir um sistema de selagem em caso de incêndio, normalmente é realizado com um material posicionado ao redor da tubulação ou ralo, que ao ser esquentada pela chama, veda a abertura.
Os shafts podem ser preenchidos por materiais semelhantes aos dos furos ao redor das tubulações nas aberturas da laje, ou ainda podem ser construídos inteiros com paredes corta fogo. Desse modo o shaft é completamente isolado. Porém, nestes casos as tubulações que entram e saem do shaft deverão ter a mesma proteção que as aberturas entre lajes.
Como uma opção alternativa de selagem de shafts, o grupo Hilti lançou recentemente no mercado um dispositivo de contenção de fogo para ser instalado e concretado junto com a estrutura, que substituiria os tradicionais shafts das edificações. O podcast Cenário Construtivo lançou um episódio trazendo mais detalhes deste sistema. Para escutar é só dar play.
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Proteção nas fachadas
Para proteção das fachadas podem ser utilizados alguns elementos, como:
- Prolongamento das lajes por 90 cm para fora da edificação
- Vigas ou parapeito que separem as aberturas verticais em no mínimo 1,20 m
- Em situações com fachadas envidraçadas, é obrigatória a utilização de vigas ou parapeitos com no mínimo 1,20 metros na parte interna da fachada de vidro
Muitos arquitetos e engenheiros projetam as fachadas dos edifícios com peles de vidro. Mas deve haver atenção a esse ponto também, pois isso acaba não atendendo os requisitos da norma.
Para atendermos a compartimentação vertical na envoltória da edificação as aberturas externas entre pavimentos devem ser protegidas entre si por elemento corta-fogo de separação, isso pode ser implementado por meio de:
- Vigas ou parapeito que separem as aberturas verticais em no mínimo 1,20 m
- Prolongamento de entrepisos (abas) que se projetam além da fachada em no mínimo 0,9 m ,ou nas edificações com baixa carga de incêndio, podem ser somadas as dimensões da aba horizontal e a distância da verga até o piso da laje superior, totalizando o mínimo de 1,20 m
Como fazer a compartimentação horizontal?
Quando temos edificações próximas, a compartimentação horizontal é realizada através do afastamento entre os edifícios. No interior da edificação, ela é realizada através de paredes portas e janelas corta fogo.
A parede corta fogo pode ser construída em concreto, gesso, bloco celular, bloco sical ou mesmo alvenaria. A resistência é definida por cada legislação estadual.
O maior cuidado nestes casos são a distância entre aberturas nas fachadas. Normalmente é exigida uma distância entre as aberturas de 2 metros, da mesma forma que a compartimentação vertical é possível construir uma aba de 90 cm para diminuir a distância de 2 metros.
A compartimentação da edificação é um dos pontos mais importantes da prevenção e combate a incêndios, fazendo com que o fogo fique confinado em poucos ambientes, dessa forma, possibilitando a fuga e o resgate dos ocupantes com segurança.
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