Você sabia que o concreto é o material mais utilizado no mundo? É o que indica o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável. Ele, que aparentemente é resistente, está sujeito a intempéries, e pode ser comprometido dependendo do tipo de degradação.
Mas um composto, semelhante ao do corpo humano, que consegue promover a cura, também pode ser muito útil para construção civil. Na prática, quando a peça de concreto fissura o material tem a propriedade de se regenerar através da produção de minerais.
Trata-se do Bioconcreto, que é capaz de regenerar suas próprias rachaduras. O chamado “concreto vivo” foi descoberto pela Universidade de Tecnologia de Delft na Holanda, pelo microbiologista Henk Jonkers e o engenheiro especializado em materiais de construção, Eric Schalange.
Como é possível a regeneração do concreto?
O concreto autorregenerante é composto pelos mesmos materiais do concreto convencional, junto com o elemento adicional chamado de agente de cura. O agente de cura é composto pelas bactérias Bacillus Pseudofirmu e lactato de cálcio.
O Bioconcreto pode ser preparado de duas maneiras. A primeira por aplicação direta, ou seja, é preparada uma solução bacteriana junto ao lactato de cálcio e adicionada à água com o concreto. O segundo método é por encapsulamento das bactérias junto ao lactato de cálcio em pastilhas de argila expandida, que são adicionadas a mistura de concreto. Verificou-se que os resultados são melhores utilizando o segundo método.
Quando o concreto fissura, o composto em contato com a umidade e a presença de oxigênio tem as condições perfeitas para germinar e se multiplicar. A bactéria se alimenta do lactato de cálcio e através de reações químicas produz o calcário, fechando as rachaduras. Na tabela 01 estão relacionados os principais condicionantes para o desenvolvimento das bactérias no concreto.
Tabela 01 – Condicionantes e critérios para o desenvolvimento de bactérias no ambiente do concreto e argamassa:
Fonte: Gaylarde, 2003.
O processo de ação das bactérias é mostrado na figura 1. Ao serem ativadas pelo contato com a água, devido à abertura de fissuras, as bactérias começam o processo de produção de calcário reduzindo ainda mais a abertura e selando a fissura a cada dia que passa, chegando ao fim do processo com a abertura totalmente fechada. O material produzido para o fechamento não reduz a resistência e nem altera significativamente as propriedades do concreto (CLAUDINO, GOMES, NEVES e NASCIMENTO, 2017).
Figura 01 – Processo de regeneração do concreto (A) Auto – regeneração ativa apenas 28 dias após a rachadura aparecer (B) Auto – regeneração quase concluída após 56 dias (C) rachadura no concreto está totalmente fechada, após concluir a auto – regeneração:
Fonte: Stewart (2015)
Segundo o cientista Henk Jonkers, não há limites para a extensão das rachaduras, mas há limite para a espessura das fissuras. Para que a cicatrização seja perfeita a fissura não pode ter mais que 8mm.
Foi constatado que o micro-organismo consegue sobreviver em ambientes hostis e é capaz de sobreviver por mais de 200 anos nos edifícios, permanecendo em estado latente até ser ativada.
Como é a aplicabilidade do Bioconcreto?
Mesmo sendo uma linha de pesquisa em progresso, o tipo de tecnologia para o concreto que se regenera já foi usado no edifício Osaka, uma estrutura de 60 andares. O material também foi utilizado em uma ponte construída em 2006, sobre a Interestadual 94 em Michigan, onde eliminou a necessidade das juntas de dilatação tradicionais. (KREBS, 2009)
E o custo do Bioconcreto?
O concreto autorregenerativo possui um custo de três vezes maior que o concreto convencional, porém, em contraponto, elimina a maioria dos custos de reparação devido às fissuras, sendo assim o custo inicial é recompensado em longo prazo, já que diminui a necessidade de manutenção dos elementos.
Gostou de saber um pouco mais sobre o Bioconcreto? Deixe seu comentário sobre outros materiais que você conhece que podem revolucionar a construção civil!
Kamila Hoss
Engenheira Civil
Fontes:
GAYLARDE, 2003
STEWART, 2015
KREBS, 2009
CLAUDINO, GOMES, NEVES e NASCIMENTO, 2017