Se você trabalha com obras, já deve ter perdido noites de sono após ser surpreendido com problemas de infiltração nas fases finais da obra. Ou pior, após a entrega do empreendimento.
A impermeabilização ainda é uma das atividades que mais gera dores de cabeça em obra. Qualquer falha ou descuido durante sua execução podem gerar situações de difícil manutenção. Isto causa incômodo para o construtor e principalmente para o proprietário do imóvel.
Foi pensando nisso, que a CLN Empreendimentos Imobiliários realizou no mês de maio um encontro técnico sob o tema Estrutura e Impermeabilização. O evento contou com a participação de construtores, engenheiros de obras, engenheiros estruturais e eu, da área de instalações prediais.
Estive lá com um objetivo claro: conhecer as novidades da construção civil fora da minha área de especialidade, para depois poder compartilhar as melhores práticas com clientes, amigos e curiosos como eu.
O encontro foi aberto com um assunto que talvez não seja novidade para quem tem experiência em obras: impermeabilização de concreto pelo método de cristalização. O que talvez você não conheça é o material apresentado pelo engenheiro Alfonso Urquidi, uma autoridade quando se trata de concreto. O produto se chama KIM (Krystol Internal Membrane) e foi desenvolvido pela Kryton International, uma empresa canadense e destaque mundial no segmento de impermeabilizantes para concreto.
Mas, para entender o que diferencia o Krystol de outros produtos impermeabilizantes similares, primeiro precisamos compreender como funciona o processo de cristalização do concreto.
Vamos lá? Boa leitura!
O que é a carbonatação do concreto?
Trata-se de um processo que ocorre quando o Ca(OH)2 (hidróxido de cálcio) presente no concreto se transforma em CaCO3 (carbonato de cálcio) após reagir com água e CO2 (gás carbônico), e então, penetram no concreto por meio dos poros e fissuras existentes na estrutura. Este “consumo” de cálcio é extremamente prejudicial, pois reduz o pH do concreto e expõe a armadura a corrosão.
Este é um dos motivos do por que o processo de cristalização é tão interessante. Ele usa a reação com o hidróxido de cálcio para gerar cristais impermeabilizantes, impedindo que o “consumo” de cálcio resulte na carbonatação do concreto.
Mas, para saber o que são estes cristais e como tudo isso funciona, continue lendo este post.
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Como ocorre o processo de cristalização?
A impermeabilização por cristalização pode ser feita de duas formas. A primeira é através da utilização de um aditivo ainda na mistura do concreto (foto 1) e a outra é em forma de pintura com compostos químicos especiais.
Foto 1: aplicação do Krystol ainda na mistura do concreto. Obra Vila Merlot.
Fonte: CLN Empreendimentos.
Os compostos químicos presentes no aditivo reagem em contato com a água e com o hidróxido de cálcio (presentes no concreto), gerando cristais não solúveis na estrutura. Estes cristais selam e protegem o concreto permanentemente contra a penetração de água e outros líquidos. Eles permitem inclusive que o concreto se regenere em caso de pequenas falhas e fissuras.
O produto Krystol também é um aditivo hidrofílico cristalino (ou seja, que “prefere” reagir com água), assim como os demais produtos presentes no mercado.
O que o torna diferente, porém, é a tecnologia patenteada de reação com as partículas não hidratadas do próprio cimento. Por este motivo, o desempenho tem-se mostrado superior, pois a presença de partículas de cimento é significativamente maior que as de hidróxido de cálcio nas estruturas de concreto.
Por este fato, os processos regenerativos e de cristalização do concreto podem durar ao longo de toda vida útil da estrutura! Incrível, não é mesmo?
E funciona na prática?
Como já comentei, a Kryton é reconhecida mundialmente por esta tecnologia. Seu produto já é utilizado em diversos países e nos mais variados tipos de obras, como pontes, hidrelétricas e edifícios. Veja alguns dos casos mais famosos:
- Marina Bay Sands – O famoso resort, localizado em Singapura, possui uma estrutura em forma de barco que conecta o topo das três torres em uma enorme área de lazer. Além de toda a área de lazer, também foi utilizado Krystol para impermeabilizar os sete pavimentos de subsolo existentes no edifício. Localizado em uma área aterrada de marinha, a estrutura recebe uma grande pressão negativa da água.
Foto 2: Resort Marina Bay Sands em Singapura.
- Palm Islands – Localizadas em Dubai, as Palm Islands são as três maiores ilhas artificiais do mundo. A Palm Jumeirah (a menor delas) será principalmente um retiro e área residencial. A principal ligação de transporte para a ilha será um canal de concreto com dois quilômetros de comprimento, totalmente submersos.
Foto 3: Ilha artificial – Pal Jumeirah em Dubai.
Pelo fato de ser uma empresa canadense e com facilidade de distribuição local, 90% dos edifícios da cidade de Vancouver possuem esta tecnologia.
O case da CLN Empreendimentos
Agora, vamos trazer o Krystol, para mais perto da nossa realidade.
Na última apresentação do evento, o engenheiro Carlos Eduardo, da CLN Empreendimentos Imobiliários, contou como foi seu primeiro contato com a Kryton, durante a obra do edifício Sangiovese.
Buscando fugir do convencional para resolver os problemas de infiltração de água, resolveram fazer um teste com o Krystol. Segundo ele, aplicariam primeiramente na cisterna e fariam os devidos testes de estanqueidade. Caso o produto não resolvesse o problema, aplicariam por cima o tradicional sistema de manta asfáltica e seguiriam o resto da obra com as soluções convencionais.
Porém, como esperado, não foi preciso. O teste com este aditivo surpreendeu tanto que passaram a utilizar na área de lazer, depois no reservatório e, por último na piscina.
Em sua última obra, Vila Merlot, ainda em fase de execução, a construtora teve que fazer algumas adaptações estruturais para poder aplicar este sistema e obter os melhores resultados.
No projeto inicial era previsto uso de concreto armado convencional, com uma junta de dilatação nas lajes entre as duas torres, devido às dimensões da laje (pouco mais de 1.800,00m²). Como a função da junta é permitir que as estruturas trabalhassem separadamente, foi necessário buscar uma forma de eliminá-las, para não comprometer o processo de formação dos cristais.
A saída foi optar por uma estrutura de concreto protendido, que daria mais resistência à laje, eliminando a junta de dilatação. Reduziria assim, alguns elementos estruturais, como pilares e vigas internas, e deixaria a estrutura mais limpa, facilitando a passagem das instalações prediais.
Outro ponto de atenção muito importante, é que foi necessário inverter alguns centímetros as vigas de borda, para que fosse possível formar uma lâmina d’água que garantiria o processo de cura úmida. Ponto de fundamental importância neste sistema.
Segundo Carlos Eduardo, o segredo para o sucesso deste processo de impermeabilização está em cinco pontos principais:
1. Cuidado com o traço
A quantidade de cimento no metro cúbico do concreto determina a quantidade de Krystol a ser adicionada. Não é ideal que se use este produto com um fator a/c (relação entre água e cimento) acima de 0,5.
2. Formas e espaçadores
Necessária muita atenção aos materiais utilizados e aos pontos para fazer a ancoragem das formas, de maneira que não permita infiltrações após a desforma.
Foto 4: cuidados com os pontos de ancoragem da forma. Obra Vila Merlot.
Fonte: CLN Empreendimentos.
3. Moldagem
As paredes e os fundos das piscinas e reservatórios devem ser concretados juntos, para não haver a formação de juntas frias, prejudiciais ao sistema. As juntas frias são aquelas formadas pela interrupção do lançamento do concreto, além do tempo de início de pega.
4. Cura úmida
Etapa essencial e talvez na qual seja necessário o maior cuidado, principalmente em locais ou em épocas do ano de alta temperatura e baixa umidade do ar. Ela garante que não haja a evaporação das partículas de água necessárias para fazer a hidratação do cimento e formação dos cristais. Resultando assim, em uma estrutura sem fissuras, ou mínimas fissurações que permitam que o sistema se regenere.
Foto 5: processo de cura úmida na obra Vila Merlot.
Fonte: CLN Empreendimentos.
5. Reparos
Em casos de aparições de fissuras maiores, tratar com aplicações localizadas do produto, que permitirá que a própria água que penetrar na estrutura ative a formação dos cristais, selando a estrutura.
Ainda segundo Carlos Eduardo, a adoção deste sistema permitiu uma significativa redução de custos indiretos. Pelo fato de não utilizar manta, não foi necessária a aplicação do contrapiso de proteção, apenas o de nivelamento, reduzindo em até quatro vezes o custo de execução da sua laje.
Questionado se ele recomenda a outras empresas o Krystol para impermeabilização, ele afirma: “se depender de mim, teremos Kryton em todas as nossas obras. Comparar Kryton com outras marcas é como comparar uma Mercedes com um Fiat Uno. Os dois são carros, possuem quatro rodas e um motor e te levam para onde você precisa, mas o desempenho é totalmente diferente”.
Gostou de conhecer um pouco sobre o Krystol? Deixe nos comentários os sistemas de impermeabilização que você mais utiliza!
Lembra que falei que o Krystol tem capacidade de regenerar pequenas fissuras? Você já ouviu falar do concreto auto-regenerativo? Confira AQUI nosso post sobre Bioconcreto, conhecido também como “Concreto Vivo”.
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Lucas Bósio Aymay
Engenheiro Civil
Fontes:
Aecweb – Impermeabilização por cristalização
Kryton.com
Kryton.mx
CLN Empreendimentos